MANIFESTO
O Jazz não vem de Nova Orleans.
O Jazz vem da luta de muitos humanos, aqueles que vieram antes da gente, os que não tinham a mesma liberdade que nós, mas tinham suas vozes e tambores. Uma vez abolida a escravidão, conquistou-se o acesso a instrumentos.
Depois daí, para fazer música, Louis Armstrong teve de quebrar as barreiras improvisando linhas melódicas até então sem sentido pra quem ouvia. Miles Davis levou boas reguadas nos dedos quando tremia notas em suas aulas de trompete. Nina Simone teve de enfrentar a pobreza, o racismo, o machismo.
O que faz nos aproxima de cada um desses nomes que parecem tão distantes é que, até hoje, apenas pra sobreviver, ainda é necessário que lutemos. Uns por visibilidade, outras por igualdade, todos nós por aceitação.
Assim como os humanos, a música é diversa. Dentro do próprio Jazz, por exemplo, os estilos são tão variados que o som de um artista pode parecer completamente não relacionável a outro - o que não quer dizer que, por ser diferente, não seja Jazz. Da mesma forma, não é por termos rostos, cores, formatos e escolhas, que não sejamos igualmente humanos.
O que antes era visto como "anormal", hoje pode ser visto livremente em qualquer rua. O que antes era performado em bares, hoje pode ser ouvido em clubes, casas de shows, universidades, grandes festivais pelo mundo. O Jazz nasceu no subúrbio, na periferia, e quebrou barreiras. A MPB, também. O Blues, também. O Funk, também. O preconceito existente atualmente em relação aos gêneros musicais existe em função da falta de conhecimento sobre suas histórias, que se parecem tanto com as nossas.
Na virada do século XX, Nova Orleans foi palco de uma mistura de culturas. Uma grande cidade portuária que reunia pessoas de todo o mundo. O resultado foi artistas expostos a uma variedade de músicas. Em 2020, São Paulo também é isso.
Sem resistência, não existiria música. Sem música, não existiríamos nós. A parte mais importante da luta é essa: não ter medo. *Isso* é liberdade. Foi o que disse Nina Simone. É o que buscamos (todos) nós.
O Jazz não vem de Nova Orleans. Vem de dentro.